terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Papo Cabeça

Acordar, viver
Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.
Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?
Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algozdo inocente que não sou?
Ninguém responde,
a vida é pétrea.
Poema "Acordar Viver" de Carlos Drummond de Andrade

Estátua de Drummond na praia de Copacabana

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